Gemido de mixoetnias mal amadas e amalgamadas. Burburinho da rua dos reis errantes. Crônicas em fragmentos, manifestos de passagem, churrasquinho na calçada, altar do grande templo, personagens em transe, forasteiros em trânsito, zigue-zagues pelo grande gueto planetário onde quilombos encontram ecos de resistência. Xei de Exu inda por cima. Não só música excluída, mas a transfiguração dos excluídos. Música popular borralheira dos brejos de algum lugar, porque para os inquietos e os desajustados o carnaval continua...

27 de out. de 2011

Guardiã Do Asfalto

Em 2002 lancei de um estúdio caseiro um disco com seis faixas. Foram gravações com sucata, bacias de lavar roupa - anarcotralhas do meu parceiro Bapt, alguns programas rústicos de simulação de antigas baterias eletrônicas, amplificadores de brinquedo, barulhinhos, muito percussão. Me alegro muito quando escuto. Como se eu lesse um diário que guardo na gaveta. Diário, essa coisa do passado quando se escrevia à mão. Mas tem também a lembrança das canções que eu tocava no violão. Uma delas vim gravar, dez anos depois, no sopé de Santa Tereza, no fim de um novo dia. Fato é que, logo em seguida, tristes caminhos cruzaram os trilhos do bonde. Rio que muda sem perder o encanto. Pára o bonde, segue o trem.



Guardiã Do Asfalto

A rua respira às cinco e meia da manhã
De um dia de semana qualquer
Eu bebo um guaraná no pé dos arcos
Logo mais o bondinho vai me recolher
E avançar morro adentro
Coloco a viola debaixo do braço

Me adianto pra não perder
O primeiro bonde que está pra sair
Só deixo pra trás as minhas pegadas
Ladeiras e casas ganham
Em tons de dourado o bom dia do sol
Espano a poeira da madrugada

Ir prum cantinho no ventre da santa
É ninho aconchegante
Será que ela vela, será que ela espera por mim?
Guiando meus passos até meu destino
Ao lado dos meus
A guardiã, guardiã, guardiã do asfalto
A guardiã, guardiã, guardiã do pedaço

E é só ela me abrir a porta e receber sorrindo
Que meu dia nasce em paz
Santa paz